5.03.2011

Au coeur du printemps*


Primeira Parte

Um título e a vontade já latente de escrever. Colocar para fora aquilo que não se pode mais conter e que foi revelado, a mim, na viagem, numa daquelas que todos, unicamente, deveriam fazer. No coração da primavera a descoberta do que já se sabia e do que não se queria ver. A vontade de dizer algo que não se diz, pois a ninguém importa além de você mesmo.  E o que é você além de alguém? 

Num mundo de infinitas possibilidades, o ser além de alguém é algo para poucos, para aqueles que, como diria um amigo meu, possuem características psicóticas... Ainda segundo o tal amigo e seu diagnóstico afetado diretamente pelo esquisito emocional, essa pessoa que escreve é neurótica!!! Oh, eu sou neurótica? Quase todos são! Acabei por concluir que ser neurótica é até ser algo bom... Enfim, a neurose, segundo definição complicada e não didática desse amigo, é um conjunto de características que te possibilitam entrar em contato com a sociedade e a realidade, de modo geral, tendo como foco a sua participação nela. “Amo você. Das mais diversas formas.” ... é uma frase neurótica? Eu não saberia discorrer. Et vous?

“There's no shame in being crazy, depending on how you take these words
That paraphrase in this relationship we're staging”

 
Segunda parte de um texto que ainda não nasceu

Mais vinho e um caloroso Adeus a Paris nesse dia frio e cinzento. Olhando Paris, das mais possíveis vistas que ela pode aparecer, inclusive daquelas que ainda não vi, é evidente a dança que nela existe. “Os franceses são grosseiros”... Non, ma soeur, somos nós que não compreendemos os movimentos da cidade luz, inusitados, diferentes, surpreendentes... 

Na hora de ir embora e novamente o desejo “bordeaux” de dançar, entrar num bar (outro), escutar uma chanson... e mais “bordeaux”, com algumas inusitadas abordagens daquelas que dá vontade de ficar horas interagindo só para escutar o som do “bonjour, mademoiselle”... E quando volta-se ao ambiente toca-se no bar francês, com uma daquelas “terrazas” que eu pensava ser no alto, U2... “Bienvenue à Paris”!!!
“Well it kind of hurts when the kind of words you write
Kind of turn themselves into knives
And don't mind my nerve you can call it fiction
'Cause I like being submerged in your contradictions dear”

Terceira parte – esperando uma chanson

Regressar chez moi com vontade de regressar tantas outras vezes... Qual a razão de pessoas não viajarem sozinhas? Não é só que nos conhecemos? Ops, acho que ouvi que é na interação com os demais. Pronto: combinação ferpeita: viajar só, interagindo no caminho... com os demais, com o lugar, o clima, as falas, os silêncios, os apertos, as novidades, os medos, as alegrias, o encontro inesquecível e de profundeza inimaginável... 

Il fait chaud dentro do bar... mas chove lá fora e aqui não faz frio. Não fazer frio dentro de si... Possível?

O celular bipou. Algum torpedo de alguma pessoa. Como seria uma viagem sem celular, sem “passado” e nem “futuro”, só o presente? Ainda não foi dessa vez. A mensagem, agora lida, me trouxe a brilhante constatação de que amar a distância é a arma do negócio... se pode “amar” sem ciúmes, sem posse, sem cobrança... e a vários amores. Como é mais fácil e, quiçá, um tanto mais prazeroso, considerando os breves momentos do encontro, bien sûr! Ah, imaginação!!! Será que é disso que o espírito humano (ou alma, ainda não sei) mantêm o corpo vivo? É a realidade com sonhos!
Saindo do bar... a chanson deve ter nascido, mas chorou muito baixo e eu não percebi...

“And through timeless words and priceless pictures
We'll fly like birds not of this earth
And tides they turn and hearts disfigure
But that's no concern when we're wounded together
And we tore our dresses and stained our shirts
But its nice today, oh the wait was so worth it
Cause here, here we are, here we are
Here we are.."


“HEY, And what a beautiful mess, this is
It's like taking a guess when the only answer is yes…”



*Título de uma obra do pintor inglês John William Inchbold (1830-1888)
O texto não foi escrito por mim, mas é um pouco meu, o crédito pelas palavras e pela foto e pela bagunça é de Petit, em catalão e em frances.
A música (chanson) em itálico é uma adição minha-minha, mas a letra é de Beautiful Mess, Jason Mraz.