3.22.2006

Cara eu ganho, coroa você perde

“Falam muito no destino. Até nem sei se acredito”
Vitor Ramil - Deixando o pago

“Quem tem brilho ainda precisa de fé e vontade
E batalhar que o tempo sempre trás toda a verdade”.
Natiruts – Tenha os olhos sempre abertos

O filme “Match Point” fala muito de sorte ou azar, pelo menos pro Gabriel. Ok, fala disso, mas para mim é mais, é sobre a fragilidade humana. Não vou dizer que quem é bom não precisa de sorte, mas ela não deixa de ser uma questão de viés (muito) pessoal. O que um chama de sorte, outro chama de acaso, aquele denomina destino e outro sentencia probabilidade estatística.


A própria expressão “Match Point” traz diversas divagações. Este é um termo vindo do esporte, do tênis ou do vôlei. Quem ganha um jogo? O melhor ou o mais sortudo? Mais ainda, o “Match Point” é o ponto final, o ponto decisivo, quem o faz ganha, o outro perde. Assim revelando a fragilidade de um frente ao outro, a vitória.

E existe vitória em relacionamentos???

Afinal, “Match Point” é também ponto de encontro, ou ainda “Igualar, casar, emparelhar” para se ter o “Match Point” é necessário se ter um momento de igualdade, o zero a zero, o “eu não te conheço e você não me conhece, vamos comparar nossas vidas”. O melhor professor que tive e vou ter na graduação já disse: não há encontro sem deslocamento no espaço”.


Ou seja, somente no encontro há a troca, do que quer que seja. Apenas no contato entre duas pessoas elas podem sair da inércia de seus “auto-autismos”, da impermeabilidade e “refratariedade” da nossa vida com nós mesmos. É no encontro, ou na decisão, que se revela a fragilidade. Ali é preciso se abrir, um pouco que seja, para se mostrar ao outro, e receber algo do que ele pode/quer te passar. E sorte ou azar são apenas nomes dados a algumas das tantas coisas que acontecem no ínterim de nossos encontros. As fragilidades das personagens do filme acabam se revelando quando elas passam a se encontrar, por coincidência (sorte?) ou propositalmente. Ali, elas não conseguem mais fazer (muito) semblante, o que ainda assim é um meio de se proteger da própria fragilidade, como em um casamento fracassado e de aparências. Desta feita elas têm que decidir o rumo de suas vidas

Match Point. Enfim, um ponto decisivo ou de encontro?

Se a vida é um jogo, o ponto é decisivo. Se não for, não deixa de ser, afinal é uma só. Mas melhor que eu, Vinícius (Samba da Benção):


Feito essa gente que anda por aí brincando com a vida
Cuidado, companheiro!
A vida é pra valer
E não se engane não, Tem uma só
Duas mesmo que é bom, ninguém vai me dizer que tem
Sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu
E assinado em baixo: Deus
E com firma reconhecida!
A vida não é brincadeira, amigo,
A vida é a arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida