10.13.2009

Indelével I

Hey now youre an All Star get your game on - go play
Hey now youre a Rock Star get the show on - get paid
All Star - Smash Mouth

“Every memory of walking out the front door
I found the photo of the friend that I was looking for
It's hard to say it, time to say it Goodbye, goodbye
I miss that town / I miss the faces
You can't erase / You can't replace it
I miss it now / I can't believe it
So hard to stay / Too hard to leave it
Photograph - Nickelback

Sabe cara que coisa estranha me aconteceu ontem, andava pela case e tropecei em um acaso. Pensando que era somente um disquinho resolvi entrar nele e ver o que havia, sem saber que o pequeno buraco do centro era tão fundo que faria com que eu me perdesse por horas. Descobri que sim, se pode ser profundamente nostálgico aos 27. Sentir falta honesta de coisas que passaram há muito pouco tempo, mas que de certa forma não voltam. Não retornam, mas estão sempre ali, penduradas nas paredes memória, um atestado de que viveste. Um sentimento que regressa com um par de fotos, uma conversa de bar re-atualizada por um vídeo, uma saudade indelével.

Então sinto o empuxo do mar, aquele mesmo que acabou de ser explorado, a exaustão. A exaustão do nadador, porque suas possibilidades, as do mar, são infinitas, e fiz tudo o que me foi possível na travessia, ou ao menos naquele instante. E quando, com as pernas tremulas de experiência tão intensa, tenta chegar à praia já com água pelos tornozelos, o empuxo tenta te persuadir a voltar e viver um pouco mais daquilo, com o Sweet talk dos melhores malandros do bairro. Só que não é possível. Então a gente faz as malas e ruma a outros litorais em busca de outras coisas que possam nos fazer ter tanta vontade de voltar.

O problema de um passado tão bom é que ele não pede uma fuga como outros que tentam inutilmente ser esquecidos, mas sim afronta o futuro; que necessita, que ruge por atenção, mas para nós somente ruído, já que os ouvidos ainda estão entorpecidos ecoando a forte batida e a alegre musica, e temos a cabeça inebriada de fantasias reais pelo último baile do carnaval. Como escutar o tele-jornal se dentro da cabeça temos insistente marchinha?

Ah se fosse uma fuga, mas não, fomos expulsos do salão ao amanhecer e agora temos que vagar bêbados pela aurora, querendo um postinho eterno, mas só temos é que nos recuperarmos nas quartas-feiras de cinzas da existência, e nos prepararmos para o mais brutal março nunca antes visto. Contudo seguimos, afinal, todo início de ano, todo março, também tem as promessas de uma luta que queremos, buscamos e pedimos por muito tempo.. mas ah, em breve se cansa, e o verão está tão longe... “mas, mas, podemos juntar as mesmas pessoas, na mesma casa da praia, escutar o mesmo cd e beber a mesma cerveja, ah, tudo será perfeito.” Não Ulisses não se passou meses, e sim anos em Ítaca, tens um Telêmaco grande, criado por tudo que fizeste ou deixaste de fazer por ele e talvez Penélope já não seja mais bela.

É melhor seguir buscando a próxima praia, o próximo mar, e por mais que o farol de um passado alegre insista em refletir por trás das lentes de teus óculos enquanto lhe dá as costas, usá-lo apenas como referência na escuridão às vezes inacabável e inapelável que se adianta a teus olhos. Porque o esforço e essa louca fé construída a livros, debates, angústias e quilômetros de viagens sobre cadeiras de madeira, te ajudará a buscar outros faróis e você “Oh, você certamente chegará - disse o Gato - contanto que você caminhe o suficiente."

9.22.2009

intemporalidades

"Tudo o que não invento é falso"
Manuel de Barros

21 de setembro,
um belo dia de sol,
seu peito saltava e o riso fugia pelo princípio da primavera, sempre muito significativa para ele.
Comentava com todos sua alegria pela chegada da estação.
E todos, os mesmos todos, comentavam incrédulos:
- Que dices, acá en Europa empieza el otoño!
Respondia a esses todos com uma falsa cara de incompreensão, como se fosse estranho à língua do país em que vivia já a mais de um ano.
E seguia assoviando contente pela rua, cada vez sentindo mais calor.

4.30.2009

Tudo que vai

Quando eu disse a ela Que o amor passou
A cidade levemente Flutuou
Ondas amarelas Na Contorno cheia
A cidade simplesmente Me odeia

Skank – Eu disse a ela

Música soando por toda a casa, escolhidas “ao azar” - ou pelo seu DJ favorito, o Alê, aleatório, como sempre brincava – músicas de todos estilos e épocas, ouvidas enquanto fazia outras coisas, pequenas burocracias do dia-a-dia. Até que foi invadido por implacável lembrança.. aquele que fora um de seus primeiros, e até a sua época, e umas posteriores, mais forte e devastador amor.

Com certa graça recordou da escola da adolescência, dos colegas (qual era o apelido daquela professora de matemática mesmo?) e de como ficava ansioso com a chegada do recreio, e não era para jogar nas regras do pátio – maiores expulsam menores, ou “5 minutos ou 2 gols” – e sim o momento de encontrá-la. Ela, curiosa, de aparelho nos dentes, jeito moleca e moleton da educação física, ele com espinhas e inseguranças, além de um tênis legal.

Se beijavam, e a cada beijo ele pensava o que devia fazer com a língua, com as mãos e o que falar nos intervalos dos beijos, nunca foi muito bom com aqueles segundos em que o beijo está acabando, se tentava engatar uma nova seqüência, fazer um carinho, um gracejo frente aos olhos que pareciam pedir algo, ou falar alguma coisa legal – que invariavelmente eram queixas de alguma matéria. Com 14 anos estava longe de trabalhar com o silêncio, hoje ria da inocência de outrora pois nunca valorizara tanto um beijo como antes.

Surpreso deu-se em conta que até o cheiro dela invadiu sua mente, seus sentidos. Dias de amor – ou aquele formato mínimo juvenil chamado de ficada – seguidos de semanas de sofrimento e de meses de uma dor completamente nova e desconfortável

Lembrou que tinha que cruzar com sua Julieta seguidas vezes nos tempos posteriores, cada vez menos incômoda e um pouco menos atrativa presença.

E repetiu mais algumas vezes a música disparadora de tantas reminiscências. Insistentemente. Não se sabe por qual matiz de tantas, porém voltava a escutar os acordes da velha canção tentando sentir, desencavar, décimos de segundos, um grama que fosse, um pedaço qualquer do que sentira.

E há quem faça força para esquecer

Enlaces: Pobre velha música